Como conversar sobre uma relação


É triste, mas o fato é que muitas vezes conversamos simplesmente porque não sabemos fazer outra coisa para se comunicar. As mulheres são mais hábeis nisso: elas choram, sorriem, se produzem ou apenas ligam o dia todo. Elas se comunicam pelo modo com que se comportam. Puro movimento, elas dançam, alternam e experimentam entre os infinitos comportamentos humanos. Os homens resistem mais a tais experimentações de linguagem e portanto são reféns da conversa. Como a mulher se comunica a todo momento, a maioria das vezes as expressões femininas são cheias de palavras. E o homem, o que faz em vez de notar o comportamento como um todo, ele ouve o conteúdo da fala feminina. E então começa a patinar tentando resolvê-lo ou criticá-lo.

Um homem não deveria se relacionar com a fala de uma mulher, não deveria reagir às palavras, responder aos significados, ao discurso, aos argumentos. Este é o pior erro que um homem pode cometer em uma conversa. Ainda que ele concorde com a argumentação, que aceite tudo o que ela disser, isso não a deixará satisfeita. O erro não é discordar ou concordar, mas se relacionar com as palavras em vez de se relacionar com a mulher inteira. Outro erro masculino bastante comum é deixar que conversas importantes aconteçam por telefone ou MSN – isto é, na ausência de corpo. Ela está irritada, ele quer se livrar daquilo, ela puxa temas, ele não está de corpo presente para conduzir as emoções, ela cobra uma ação, ele não consegue fazer nada no momento, os dois brigam feio.

A conversa usual muitas vezes age contra a verdadeira comunicação. Palavras só funcionam quando são desnecessárias, quando a outra comunicação já está ocorrendo pela conexão dos corpos. Apenas então a palavra é bom ornamento, adorno, enfeite. Cada frase é toque, gesto, para além de sua significação discursiva. Uma conversa de mesa, discursiva, se faz com palavras e um certo tom de agressão. Há uma urgência em falar e nos irritamos quando somos interrompidos. Estamos distantes, um de cada lado da mesa. Às vezes nos levantamos e continuamos a falar de costas para o outro, ou gritar sem que o outro sequer esteja no mesmo cômodo que nós. A agressão esconde uma fragilidade: precisamos de algo, queremos convencer, provar, ganhar, esperamos que o outro entregue exatamente aquilo que desejamos receber.